A China e seu cartão de visitas

Publicado em 2013

Além de gigante, funciona.

Quanto mais eu conheço a China e me envolvo com sua maneira de fazer negócios, mais dou conta que ainda estamos enxergando apenas a ponta do iceberg.

O. MerluzziEsse gigante, que nos últimos anos movimentou a economia mundial com seu desenvolvimento e maravilhosas obras de infraestrutura, ainda não construiu um novo país em todo seu território. Por enquanto, o Sul, Sudeste e alguma parte da área Central foram desenvolvidos. Resta ainda outra China a ser construída no Norte, Nordeste e Centro Oeste do país.

Dinheiro não falta e seus líderes políticos já anunciaram que pretendem dobrar o PIB do país em oito anos. Mas há outra coisa que impressiona: “a seriedade com que os chineses abraçam as causas da gestão dos recursos públicos, dos projetos e da qualidade“.

A corrupção é duramente punida em qualquer nível hierárquico e a punição não tarda. Os que trabalham com dedicação, rapidamente se destacam. A população que consome emerge a cada dia e o governo parece frear um pouco o crescimento do país, pois como eles mesmos dizem, crescimento muito elástico não faz bem. Conclusão: a China vai continuar crescendo por muitos anos e espero que o Brasil saiba surfar nessa onda.

O aeroporto de Beijing é um espetáculo, mas está saturado. Transporta mais de 270 mil passageiros por dia e já foram feitas duas expansões (nada de puxadinho). Ao Sul de Beijing será entregue em 2018 um super aeroporto, duas vezes maior que o de Beijing. O aeroporto de Daxing terá o tamanho da Ilha de Bermudes.

A porta de entrada para um país, além de ser um cartão de visitas, tem de funcionar bem. É assim que se faz negócios com o mundo. Não importa se é privado ou não. O importante é ter respeito com o dinheiro público e com a população.

Fazer negócios com os chineses é sedutor, mas é preciso entender um pouco da cultura e sua governança corporativa. Além disso, tentar fazer com que eles entendam um pouco sobre você. Dar gorjeta ao atendente em uma loja da Starbucks em Beijing pode lhe colocar em uma situação desconfortável, pois em alguns casos eles se ofendem. Estão para trabalhar e não para pedir esmolas. Trabalhar e produzir. É isso que eles tem em mente, seja servindo um café, seja construindo um edifício de 200 andares.

All made in China
All made in China

Outra coisa que chama atenção é o fato da larga demanda interna ter atraído quase todas as montadoras de veículos do mundo, para produzir na China, inclusive aquelas que eram intocáveis em termos de imagem, luxo, qualidade e arrogância. Essas marcas se renderam aos modernos padrões do made in China, ou seja, qualidade Europeia, produtividade Asiática, com o menor custo local. É comum se ver nos três primeiros anéis viários de Beijing, congestionamentos de luxuosas marcas de veículos alemães e americanos, todos produzidos na China. Há pouco mais de cinco anos, isso seria impossível de se imaginar.

É questão de tempo para que as marcas de carros que não produzem no Brasil e não tenham planos de fabricar aqui, passem a importar seus veículos “made in China”, afinal esses modelos produzidos na China são vendidos lá, por menos da metade do preço que os encontramos aqui.

A imagem dos produtos chineses de baixa qualidade desapareceu para quem conhece o Dragão. A China produz hoje com elevados padrões de qualidade, tecnologia e valor agregado. O próprio mercado local já começa a rejeitar os produtos de segunda linha e algumas dessas fábricas estão com os dias contados. Como exemplo, a marca líder em vendas de caminhões na China há três anos é aquela que vende os veículos com o maior preço.

Veremos uma nova onda de invasão chinesa no mundo. Com a saturação do mercado interno, as melhores fábricas e melhores marcas chinesas começam a buscar novos mercados e ultrapassar suas fronteiras, seguindo a ordem de destino para Índia, Rússia, México, Brasil, Indonésia e Turquia. Junto com essa invasão virão os tier 1 e tier 2.

Infelizmente, para nós, o México passou o Brasil na ordem de preferência dos chineses (e não só dos chineses), por competência mexicana e vacilo brasileiro nas políticas de atração de novos investimentos, flexibilidade e facilidade para a abertura de novos negócios no País.

Os países que compõe a Aliança do Pacífico, Chile, Peru, Colombia e México estão anos-luz a frente do Mercosul, em termos de acordos internacionais com países que realmente agreguem as suas economias e balanças comerciais. O Brasil precisa acordar para isso. O mundo está muito mais rápido e com todo respeito ao Mercosul, a fila precisa andar.

Orlando Merluzzi – ago/2013

1 Comment

  1. Mais um artigo muito bem escrito e interessante. Eu não entendo porque a China ainda está nos Brics, afinal, ela já emergiu. Mas o comentário no final sobre o Mercosul e a Aliança do Pacífico é o grande alerta. O Brasil está perdendo tempo com esse Mercosul falido, enquanto outros países mais inteligentes e mais competentes do que o Brasil vão nadar de braçada e a Aliança do Pacífico é mais um exemplo. O Brasil perde muito tempo se aliando a países que nada agregam a nossa economia, tais como Bolívia, Venezuela e até mesmo a falida Argentina. O México e a Colômbia são a “bola da vez” no cenário latino-americano. A política exterior do Brasil é amadora.

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