Ao longo de décadas, grandes complexos industriais no setor automotivo foram construídos sob o conceito do motor a combustão e muitos fornecedores tornaram-se referência de qualidade e tecnologia, tanto para as montadoras como para o aftermarket.
Com a chegada dos veículos elétricos o modelo de negócios vai mudar, inclusive na cadeia de suprimentos para o setor. Engana-se quem pensa que tamanha ruptura ainda levará muito tempo para ocorrer. Tenho participado de debates e publicado artigos sobre esse assunto.
A China é o primeiro país a implementar um landmark para produção e venda de carros elétricos. Como exemplo, 12% dos veículos vendidos por lá, em 2020, deverão ser elétricos, algo como 3,6 milhões de unidades – o mercado anual é de 28 milhões de veículos e continuará crescendo. Das marcas que produzem e vendem na China, 60% são globais, as mesmas que vendem no Brasil. Daqui a dez anos, estima-se que 50% dos veículos produzidos nos principais países do mundo serão elétricos. Conectividade e inteligência artificial serão tecnologias decorrentes e agregadas.
Ressalto que carros elétricos possuem 60% menos peças móveis, se comparados aos carros com motor a combustão. Não trocam óleos, filtros, correias, juntas, ou velas, porque não possuem. Uma pastilha de freio pode durar 150 mil quilômetros e o disco de freio é feito para durar por toda vida útil do veículo. O propulsor não tem virabrequim, bielas, bico injetor, eixo comando de válvulas e tantas outras peças e componentes tradicionais nos motores a gasolina ou diesel. A transmissão possui apenas duas marchas, uma para frente e uma à ré.
Os efeitos dessa ruptura para o setor de serviços e assistência técnica serão de grande impacto. O aftermarket também sofrerá, pois, a atual frota circulante será reduzida gradativamente ao longo das próximas duas décadas e substituída por novas tecnologias.
Isso tudo obrigará os fabricantes de peças e componentes (e seus próprios fornecedores) a repensarem seus modelos de negócios e se prepararem para produzir algo novo e diferente. Não será possível esperar muito tempo para refazer o planejamento estratégico, pois nesse setor dez anos passam muito rápido.
O valor dessas empresas e o patrimônio dos acionistas sofrerão alterações, fruto da potencial redução de expectativas de negócio e menor geração de caixa, caso muitas delas não iniciem novos processos de planejamento estratégico e ações para, no mínimo, assegurar a sustentação da própria riqueza dos acionistas. Veremos uma grande movimentação de fusões, aquisições e joint-ventures nos próximos anos, tanto na cadeia de fornecedores como nas redes de distribuição e atacadistas no aftermarket.
Quem quiser saber mais sobre como identificar tendências e oportunidades no setor automotivo e como reagir ao novo cenário tecnológico, siga o blog do oleodieselnaveia ou contate-me diretamente na MA8.
Orlando Merluzzi – Março 2018