Made in China 2025, o mega plano chinês de autossuficiência

Em 2015 o governo chinês divulgou um plano de dez anos, denominado Made in China 2025. Trata-se de uma política industrial apoiada em pilares específicos de desenvolvimento que englobam financiamentos, subsídios, proteção às empresas locais, independência, controle e verticalização da produção tecnológica.

Algo que aprendi nos últimos sete anos, trabalhando diretamente com empresas chinesas de vários setores e estudando muito sobre aquele país, é que quando os chineses estabelecem um plano estratégico eles cumprem.

Reações internacionais

Como não poderia ser diferente os países desenvolvidos já começaram a reclamar, pois o Made In China 2025, além de ter como objetivo transformar a China no maior líder global em manufatura tecnológica, posicionará o país em um degrau acima dos demais no jogo do poder.

O novo programa de Beijing, já em curso, estabeleceu áreas prioritárias de desenvolvimento, entre elas a energia limpa, tecnologia de informação, robótica, equipamentos aeroespaciais, ferroviários, marítimos, elétricos, agrícolas, desenvolvimento de novos materiais e biomedicina.

Rapidamente os países incomodados partiram para acusações. O mega plano chinês para modernizar seu parque industrial irritou governos em todo o mundo, ao menos os daqueles países mais atentos.

Surge agora uma ameaça concreta à liderança tecnológica dos EUA e uma dor de cabeça para Alemanha, Japão e Coréia do Sul.

A China tem todo direito de proteger o que conquistou nas últimas décadas e fez dela o principal mercado do mundo, com reservas acima de três trilhões de dólares, as quais podem superar o nível de dez trilhões de dólares nos próximos quinze anos. Tem um plano para transformar a sua moeda, o Yuan, em ativo de reserva de mercado.

Xi Jinping já é hoje o homem mais poderoso do mundo e enquanto Donald Trump gasta energia diplomática com a Coreia do Norte, Rússia e alguns países do Oriente Médio, o líder chinês começa a estabelecer a nova ordem de poder na diplomacia internacional e, em alguns casos, tem dado a última palavra.

Parece que a intenção da China não é juntar-se aos países de alta tecnologia, mas sim substituí-los por completo.

Made in China 2025 tem como pano de fundo a “autossuficiência” e fará do país uma superpotência da manufatura, dominando o mercado global. Isso explica a reação alarmista de algumas nações com larga dependência da exportação de produtos tecnológicos.

A partir de agora a China enfrentará muitas batalhas na OMC (Organização Mundial do Comércio), mas o país tem o poder de influenciar o mercado internacional com a força de seu mercado interno e ditará ainda mais as regras para os preços de commodities agrícolas e minerais.

Enganam-se os que pensam que o país está atrasado em setores críticos de alta tecnologia. Lembro que os dois maiores supercomputadores do mundo estão na China e possuem capacidade de processamento até quatro vezes maior do que os supercomputadores localizados nos EUA e no Japão.

Desonestidade, mas nem tanto

A China tem sido acusada de desonestidade na forma como adquire conhecimento tecnológico, aproveitando-se dos acordos forçados de transferência de tecnologia com empresas estrangeiras para obter know-how, em troca de acesso ao mercado interno chinês. Esse é outro ponto a ser compreendido e respeitado, pois a China utiliza seu enorme mercado interno como valiosa moeda de troca. Mérito para eles.

Eu pergunto: Qual país do primeiro mundo, hoje líder em alguma tecnologia, que ao longo da história não tenha feito algo reprovável ou questionável, aproveitando-se de fraquezas de outros parceiros comerciais? Business is business. É a regra do jogo do poder global, infelizmente, mas é jogada por todos.

O. Merluzzi

 

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