Você tem vocação para early-buyer? Gosta de adotar as novas tecnologias antes dos outros?
Por enquanto, muitas incertezas também nos mercados desenvolvidos onde os carros 100% elétricos já convivem em harmonia com o dia a dia das pessoas. Noruega, Inglaterra, França, Alemanha, Canadá, Japão, China, EUA, em todos esses países as vendas de veículos elétricos precisaram de um empurrãozinho em forma de incentivos fiscais ou financiamentos, seja para o veículo ou para as estações de recarga. Quando os incentivos foram retirados as vendas recuaram, como no caso da Holanda e Dinamarca em 2016.
São indiscutíveis os benefícios para a sociedade decorrentes de tecnologias limpas e isentas de combustíveis fosseis. No Brasil quem não vai apoiar muito essa ideia é a Petrobrás. Contudo, há várias questões a serem respondidas por meio da observação desse novo mercado e do comportamento do consumidor que aderir a nova onda de imediato, os chamados early-buyers (primeiros compradores).
Obsolescência das baterias
A questão central é sobre a possível obsolescência dos atuais veículos elétricos com bateria Li-ion (íon de Lítio), não porque deixarão de existir, mas porque a evolução das baterias nos próximos dez anos será exponencial.
As tecnologias para baterias veiculares mais divulgadas (Pb-ácido, Pb-carbono, Ni-metal, Li-enxofre, Li-ar, Zn-ar, Li-ion e Células de hidrogênio) ainda não definiram o melhor caminho a ser seguido. Todas possuem vantagens ou desvantagens em termos de ciclos de recarga, velocidade de carga, temperatura de operação, riscos de incêndio, densidade/capacidade, peso e principalmente, custo.
O carro elétrico adquirido hoje virá com um conjunto de baterias com vida útil entre cinco e oito anos e quando você estiver prestes a substituir a bateria, a tecnologia já terá evoluído e as novas baterias terão autonomia bem maior do que a atual, menos peso e tamanho. Claro que tudo isso vai ter um custo. Será que as fabricantes assumirão a maior parte desse custo no futuro?
Previsibilidade e vida útil
Quem comprar um carro elétrico precisa ter previsibilidade para essa que é a maior intervenção de manutenção do veículo em sua vida útil. Nesse momento surge a segunda questão: qual é a vida útil de um veículo elétrico e qual será o preço das baterias no momento de substituição? Hoje, a bateria custa até 60% do preço do veículo, mas certamente esse valor cairá muito com o aumento da produção em escala.
Grandes montadoras já estão desenvolvendo baterias com eletrólitos sólidos ao invés de líquidos ou gel e até definiram datas para introdução. A Toyota estabeleceu o ano de 2022 e a VW deve fabricar carros com baterias “solid-state” antes de 2025. Isso representa uma enorme evolução, pois essa tecnologia deve resolver parcialmente os problemas de autonomia, peso, densidade, custo e segurança.
Os eletrólitos sólidos são menos propensos ao superaquecimento ou ao fogo e permitem cargas mais rápidas.
Como será o mercado de veículos elétricos usados?
A terceira questão para os “early-buyers” é quanto ao mercado de veículos elétricos usados. Por quanto tempo os primeiros compradores permanecerão com o veículo? Quem comprar o veículo elétrico de segunda mão, provavelmente terá de arcar com o custo da atualização e, talvez, seja financeiramente mais vantajoso adquirir um veículo elétrico novo quando chegar a época.
O tamanho do mercado dos carros elétricos no Brasil é algo que desafia as projeções, pois os preços iniciais ao varejo devem partir de R$ 130 mil em 2019, considerando as marcas mais conhecidas. Ocorre que, no Brasil, mais de 90% dos carros vendidos custam menos de R$ 100 mil. Assim, o mercado potencial para os carros elétricos ainda é pequeno e servirá, inicialmente, como bom instrumento de publicidade e propaganda.
Orlando Merluzzi – Junho/2018