Em 2017 foram vendidos 1,2 milhão de veículos elétricos no mundo e para 2018 estima-se um crescimento de 42%, devendo fechar o ano com vendas acima de 1,7 milhão de unidades. Isso representará menos de 2% de todos os veículos automotores vendidos no mundo em 2018.
A curva de crescimento das vendas de veículos elétricos nos países desenvolvidos está diretamente relacionada com a disponibilidade de financiamento, benefícios fiscais e tributários, redes de recarga disponíveis e várias políticas de incentivo que vão das esferas federais, estaduais e até municipais, de Beijing a Oslo, de Amsterdam a San Francisco. Em alguns países, quando os incentivos foram retirados, as vendas imediatamente recuaram. Leia meus artigos de junho/2018 sobre o tema, links ao final deste texto.
O que diz a International Energy Agency (IEA), maior autoridade mundial sobre estudos de veículos elétricos (bateria), híbridos e célula de combustível:
Até agora, a introdução dos veículos elétricos foi, principalmente, impulsionada por políticas de incentivos. Isso vale para veículos de passageiros, caminhões, ônibus e duas rodas. A China é o país com as mais antigas políticas em vigor visando a eletrificação. Olhando para o futuro os sinais mais fortes emanam de regras para carros elétricos na China e na Califórnia, bem como a recente proposta da União Europeia sobre limites para os índices de emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2030. Em complemento, as metas de eletrificação anunciadas pelo governo da Índia e por uma série de outros países e grandes cidades em todo o mundo também apontam para a expansão do mercado de veículos elétricos.
As políticas de incentivo e redução de custos devem resultar em crescimento significativo desse mercado até 2030. Até lá, deverão ter sido vendidos, cumulativamente, 125 milhões de veículos elétricos no mundo (nota do autor: o número parece grande, mas só neste ano de 2018 as vendas globais de veículos automotores devem atingir 100 milhões de unidades). Se as ambições políticas continuarem fortes para atingir as metas climáticas e outras metas de sustentabilidade, como no cenário do programa EV30@30 (30% de market share em 2030), então esse número poderá chegar a 220 milhões de unidades acumuladas até 2030 (nota do autor: o EV30@30 possui metas muito ambiciosas, mas as projeções das próprias fabricantes consideram números mais conservadores).
As políticas necessárias em uma transição sustentável para a mobilidade elétrica exigem uma ampla gama de medidas e ações de apoio (governos, instituições financeiras e cadeia automotiva).
A Iniciativa de Veículos Elétricos (EVI) é um fórum político anual para facilitar e acelerar a implantação de veículos elétricos em todo o mundo e serve como plataforma para compartilhamento de conhecimento e práticas de políticas e programas de suporte à implantação dos veículos elétricos. Os países atualmente membros nesse fórum são: Canadá, China, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Japão, México, Holanda, Noruega, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Chile e Nova Zelândia devem entrar neste ano.
Um cenário adverso no Brasil
O Brasil ainda não figura como membro desse grupo e muitos fatores internos dificultam a adoção de práticas e políticas de incentivos, necessárias para uma implantação sustentável dos veículos elétricos no País a médio e longo prazos. Entre eles, políticos e mercadológicos, destaco alguns abaixo:
- Impactos políticos e orçamentários da adoção de incentivos para financiar iniciativas de desenvolvimento, produção, importação e vendas de veículos elétricos (o mesmo vale para suportar a instalação de uma rede de recargas, um investimento com retorno questionável e insustentável financeiramente em curto e médio prazos). O impacto será ainda pior se os incentivos forem entendidos como renúncia fiscal.
- Fragilidade fiscal e elevado déficit orçamentário, previstos para os próximos anos no País; outras prioridades governamentais para os próximos anos (seja qual for a linha do novo governo a partir de 2019).
- Necessidade lógica de manter-se o programa tecnológico de veículos com motorização flex, respaldado pela vocação e competência do Brasil na produção do álcool, uma vez que os veículos movidos com essa tecnologia são baixos emissores de poluentes.
- Impactos políticos, tecnológicos e financeiros em relação a Petrobrás.
- Potencial obsolescência da atual tecnologia dos veículos elétricos nos próximos dez anos, por causa da inevitável evolução das baterias Li-ion para a tecnologia “solid-state”, comprometendo também o mercado de veículos elétricos usados.
Potencial de vendas
Com relação ao volume potencial de vendas de veículos elétrico no Brasil, deve-se levar em conta que 70% das vendas em nosso mercado são de veículos com preço abaixo de oitenta e cinco mil reais e dificilmente as fabricantes conseguirão colocar os carros elétricos no mercado com valores próximos a esse patamar, pelo menos nos primeiros anos. Resta, portanto, um mercado com potencial de vendas bastante reduzido, no qual os carros elétricos terão que disputar espaço com os veículos movidos com motor de combustão e principalmente, vencer a resistência de consumidores com relação a tecnologia e o custo total de propriedade e operação do veículo elétrico (CTPO). Isso inclui as incertezas quanto ao mercado de veículos elétricos usados e o preço de revenda.
Deixo aqui os links para dois artigos publicados em junho/2018 que complementam a visão acima.
Carros elétricos, um cenário nebuloso para a próxima década no Brasil – Artigo de 30/06
A febre dos carros elétricos não vai lhe atingir tão cedo – Artigo de 06/06
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Orlando Merluzzi – 11/08/2018