Coloquei nesse quadro um resumo parcial dos temas abordados por mim em recentes palestras para o setor automotivo. Alguns dos itens já foram destacados em meus artigos, publicados também no oleodieselnaveia.com.
Cada um dos itens demanda um plano de ação necessário (alguns obrigatórios), para qualquer marca que queira introduzir veículos elétricos no Brasil, seja fabricante ou importador.
Não vou entrar em detalhes, neste artigo, sobre cada um deles, pois o quadro é complexo, mas quero destacar alguns pontos fundamentais, os quais tenho levantado há algum tempo, desde quando publiquei, em julho de 2017, o artigo: “ROTA 2030 pode nascer ultrapassado para o setor automotivo brasileiro.”
Dentre os pontos observados no quadro acima, quero destacar seis (06) deles.
Oportunidades
Revisão do modelo de negócios: mais do que oportunidade, uma necessidade. Os conceitos de vendas, gestão, relacionamento com clientes e a compreensão das novas demandas de mobilidade inteligente exigirão a atualização do software de relacionamento entre as fábricas e suas redes de concessionárias. Divulguei recentemente um vídeo da MA8, onde apresento uma ferramenta exclusiva para avaliação e redesenho do modelo de negócios. Ela foi desenvolvida também para o setor automotivo e redes de concessionárias.
Novos negócios e criação de novos mercados: mais do que uma oportunidade, outra grande necessidade, principalmente para as redes de concessionárias. A nova tecnologia exigirá mais competência técnica e investimentos em itens que, em uma primeira análise, parecem estar desviados do foco da atividade principal da concessionária, ou seja, vender veículos, peças, serviços e assegurar a satisfação dos clientes. De agora em diante atividades de gestão de TI, processos online, web-services, atendimentos remotos por simples atualização de software do veículo e vendas virtuais, assumirão papeis tão importantes no negócio quanto a própria tecnologia dos veículos elétricos e, quem sabe um dia, dos veículos autônomos.
Riscos
Perda de absorção do pós-venda. Convido você a ler meus artigos recentes sobre isso, publicados aqui mesmo no blog. Enquanto houver o mercado de veículos com motores a combustão (gasolina, flex ou diesel), haverá o tradicional aftermarket por muitos anos. Mas um dia – isso ainda vai demorar – os novos veículos elétricos serão maioria na frota circulante e darão menores resultados para as oficinas, pois não trocam filtros, óleo, velas, injetores, correias, juntas e tantos outros componentes, sem falar que uma partilha de freios deve durar, no mínimo, cento e cincoenta mil quilômetros.
Obsolescência
Evolução das baterias: acontecerá com os veículos elétricos, guardadas as devidas proporções, o mesmo que ocorreu com os telefones celulares nos últimos quinze anos. Tenho em meu escritório uma gaveta com sete aparelhos usados que não servem para muita coisa e nem têm valor comercial. As atuais baterias íon de Lítio dos carros elétricos, daqui a cinco anos já terão sido substituídas pelas baterias “solid-state“. Considerando que a vida útil das atuais baterias está entre cinco e sete anos, quem comprar um carro elétrico hoje, ao chegar o momento de substituir as baterias ou o próprio veículo, vai se deparar com uma nova tecnologia disponível. Por isso, tenho alertado que as montadoras devem pensar em lançar veículos elétricos com um programa de recompra garantida dos usados, caso contrário o mercado de usados sofrerá enorme desvalorização e isso poderá comprometer as estratégias futuras das marcas.
Barreiras Mercadológicas e Desafios Governamentais
Com relação a isso quero abordar aqui apenas duas questões.
- Incentivos. Nenhum país desenvolvido, engajado nos programas de redução de poluentes nos tratados internacionais e comitês especiais (os principais deles são o Acordo de Paris-COP21 e o EV30@30) conseguiu introduzir os veículos elétricos em seus mercados sem grandes incentivos fiscais e tributários fomentados pelos governos locais, de Beijing a Oslo, de Amsterdam a San Francisco. No Brasil não será diferente e, sem incentivos, dificilmente os carros elétricos ganharão as ruas em volumes significativos que garantam retorno aos investimentos necessários, seja para as fabricantes, para as redes de concessionárias e até os consumidores. Considerando o atual déficit fiscal e as prioridades sociais, quem quer que seja o próximo governo, não penso que os incentivos para veículos elétricos sejam colocados em pauta, tão cedo, com a prioridade necessária. Porém, poderemos ter alguma coisa “paliativa”.
- Petrobrás. A nova matriz energética no setor automotivo mundial vai comprometer a principal estatal brasileira. Temos a tecnologia flex. Até onde irão os interesses estratégicos do País? A quem interessará abandonar a tecnologia limpa (etanol) desenvolvida com tanta competência e sucesso no Brasil?
Navegar entre todas essas estratégias acima irá requerer cautela, atenção, pés-no-chão e competência em planejamento.
Orlando Merluzzi – 18/10/2018