Certos temas precisam ser ponderados de forma independente, para evitar dissonância cognitiva.
Os carros elétricos chegaram ao mundo para ficar, mas muita água ainda passará sob a ponte antes da nova tecnologia convencer os mais céticos, salvo alguma lei proíba a venda de carros com motor a combustão, o que também não acontecerá tão cedo no Brasil. O setor automotivo representa 20% do PIB industrial e qualquer mudança tecnológica, conjugada com uma política irresponsável, seria catastrófica para a economia e para as próprias montadoras.
Projeções Globais
Em termos mundiais, algumas agências internacionais projetam que a produção de elétricos e híbridos superará a produção de veículos com motores a combustão em um período de quinze a vinte anos. Na visão da MA8, a oficialização, na semana passada, de que os EUA deixarão o Acordo de Paris enfraquece sobremaneira o grupo dos países do EVI e com isso, as projeções de produção para veículos elétricos no mundo devem escorregar. A saída dos EUA afeta as metas do acordo e muda a forma como outros governos, principalmente a China e a Índia, tratam o compromisso. Embora o segmento de transportes represente apenas 25% das emissões mundiais de CO2, não há como dissociar a análise.
O Brasil no contexto dos carros elétricos e a iminente dificuldade de convencer investidores
Dificilmente uma lei que dificulte a compra ou produção de veículos com motores a combustão teria respaldo na estratégia de governo, seja ele de qualquer ideologia. Alguns motivos:
- O que fazer com o álcool e com a tecnologia flex, na qual o Brasil detém muita vantagem competitiva.
- O que acontecerá com as ações de uma das joias da corôa, a Petrobrás, onde o governo é o maior acionista.
- Com que dinheiro o governo iria subsidiar o mercado de carros elétricos, já que nos demais países as vendas só ocorrem devido aos incentivos fiscais, tributários e bônus financeiro diretamente para o cliente final. Ainda não se vende carros elétricos no mundo sem algum tipo de incentivo para os fabricantes e para os consumidores (fonte: IEA e ACEA).
- A produção independente de eletricidade renovável é viável (apesar de cara) e isso retirará um pouco de poder da Eletrobrás, outra joia da corôa, embora o consumo de energia elétrica demandado por veículos seja insignificante, se comparado com a demanda energética de toda a economia.
Listo abaixo oito razões para você comprar um carro elétrico agora e oito razões para não fazê-lo tão cedo.
Faça sua escolha, inclusive se você for daqueles para quem “mais vale um gosto do que dinheiro no bolso”.
OITO RAZÕES PARA COMPRAR UM CARRO ELÉTRICO AGORA
- Não polui diretamente e coloca você em consonância com as novas tendências e respeito ao meio ambiente.
- O nível de tecnologia é muito elevado e você estará conectado com um novo mundo, inteligência artificial e fará parte da transformação digital 5.0.
- Não gasta combustível (fóssil) e consome energia limpa e renovável.
- Você poderá abastecer o carro na garagem da sua residência ou em seu escritório (se não tiver pressa).
- A promessa é que o motor, transmissão e componentes durem mais. O veículo é mais silencioso e não emite fumaça.
- Acelera rápido e pode gerar parte da própria energia.
- Não troca óleo, filtros, correias, velas, juntas, bico injetor e uma pastilha de freio pode durar até 150 mil km.
- É seguro, com promessa de manutenção mais barata durante a vida útil.
OITO RAZÕES PARA NÃO COMPRAR UM CARRO ELÉTRICO AGORA
- Value-for-money. Custa muito caro e com o seu valor é possível comprar um potente carro flex ou a gasolina, de luxo e muito mais confortável, ou então, dois carros menores muito bem equipados, flex.
- É uma tecnologia ainda desconhecida, em evolução e os carros elétricos de hoje podem tornar-se obsoletos, rapidamente.
- Além de ser muito pesada, a bateria tem baixa autonomia e dura de 5 a 8 anos, quando deverá ser substituída. O preço da bateria, hoje, pode chegar a 60% do valor do carro e o futuro desse procedimento ainda é incerto.
- As atuais baterias Li-ion serão substituídas pela nova tecnologia “solid-state” nos próximos 5 anos e algumas marcas já estabeleceram datas para lançar os novos veículos. Essas novas baterias são mais leves, menores e possuem maior densidade de carga.
- Talvez, não exista mercado para os carros elétricos usados, no Brasil, nos próximos anos e você vai casar com o veículo. Dificilmente as montadoras farão com os carros elétricos usados, aquilo que as operadoras de telefonia fazem com os aparelhos de celular obsoletos. Seria financeiramente inviável.
- Ainda pairam incertezas quanto aos custos futuros de licenciamento, impostos, seguros e reparos maiores.
- Não há, ainda, infraestrutura capilar para postos de recarga rápida e a atual bateria Li-ion não recarrega tão rápido assim. Quem tiver pressa da carga, em uma situação de emergência, precisará controlar suas emoções.
- O que hoje é um sinal de comportamento responsável, amanhã poderá ser um “mico” nas mãos dos primeiros compradores.
Sem mercado de usados para os veículos elétricos com mais de cinco anos, a tendência dos “early buyers” pode ser voltar para os motores a combustão, a médio prazo e isso pode se tornar um problema, não só no Brasil.
Você compraria um carro elétrico usado, com uma tecnologia semi-obsoleta? Pense na evolução dos smartphones nos últimos dez anos e faça a analogia com os carros elétricos, que na verdade, são grandes computadores sobre rodas, super conectados, que também podem levar você de um lugar para outro.
Para quem quiser ler um pouco mais sobre isso, aqui mesmo no blog do oleodieselnaveia poderá encontrar informações e se precisar falar com o autor, dados de contato estão no site.
Orlando Merluzzi
Artigo publicado originalmente em julho/2019 e atualizado em novembro/2019.