- O país representa apenas 3% do mercado mundial de veículos, o que o torna vulnerável em situações prolongadas de incertezas globais, mas é estratégico para a América do Sul. Na hora de decidir, o que pesa mais? Enquanto algumas marcas estudam deixar o país, outras estão chegando.
Em um período recente, entre o final dos anos dois mil e o início da década passada, o mercado automobilístico brasileiro chamou a atenção de algumas montadoras pelo mundo, que aportaram no país e construíram fábricas. Foi um movimento de investimentos e expansão acompanhado, também, por várias montadoras que já estavam presentes aqui. Havia crescimento econômico, baixo índice de desemprego, alguma estabilidade monetária e cambial, demanda por consumo, disponibilidade de financiamento para o varejo, taxas de juros atrativas, expansão de reservas internacionais e incentivos governamentais (Inovar-Auto, por exemplo). Enfim, um cenário perfeito para novos investimentos no país.
Entre 2006 e 2012 o tamanho do mercado dobrou, em uma sequência de recordes de vendas anuais nunca observados antes. O mundo crescia puxado pela China. Todas as projeções apontavam para um mercado de cinco milhões de veículos em 2016 e o parque industrial se preparou para isso, mas fechamos o ano de 2016 com dois milhões de unidades vendidas; o tombo foi grande e até hoje não nos recuperamos (Gráfico 1). Crise política, retração econômica da China, pandemia, descontrole cambial, falta de semicondutores e agora, a guerra promovida pela Rússia. Não conseguimos respirar dois anos seguidos no setor automotivo, desde 2014.
As surpresas e sustos econômicos e políticos não são novidades para nós; difícil é prevê-los em um “business case” e explicar para a matriz, as características deste mercado, tão interessante quanto desafiador. De lá para cá, algumas fábricas já foram embora, grupos concessionários se reestruturaram e a capacidade instalada do parque industrial no Brasil baixou de cinco para quatro milhões de veículos por ano.
Gráfico 1
O mercado brasileiro não comporta novas montadoras, no atual cenário.
É mais rápido encerrar operações do que investir em uma nova fábrica.
O planejamento estratégico de investimentos da matriz de uma montadora, para outros países, não é algo que ocorre da noite para o dia e são necessários, no mínimo, três anos para estudos e aprovação. Hoje, as empresas investem na Ásia, Europa e Nafta, não só porque essas regiões, juntas, representam mais de 85% do mercado mundial, mas porque as novas tendências tecnológicas de veículos elétricos, híbridos e células de hidrogênio dificilmente pagarão a conta dos investimentos na América do Sul e em especial, no Brasil. Importante lembrar que o Brasil representa 3% do mercado mundial (Gráfico 2).
Gráfico 2
No atual cenário econômico, local e global, o mercado brasileiro não comporta novas montadoras, de forma saudável financeiramente, além das 26 fábricas já existentes no país e os próximos dois anos poderão redefinir o futuro de algumas delas. A mesma situação ocorre para a cadeia de fornecedores.
O papel aceita tudo, a imprensa divulga e cria expectativas no mercado. Bem, esse é o objetivo dos Press Releases. Contudo, relembro aos entusiastas que investimentos precisam ser pagos, dar retorno e as matrizes das montadoras não costumam avalizar negócios beneficentes.
Promessas de volume de vendas e conquista de mercado devem ser feitas com cautela, porque, uma hora a matriz irá cobrar os resultados e decisões de deixar o país, como ocorreu com a Ford e foi ameaçada recentemente pelo ex-presidente da GM, são mais rápidas de serem tomadas do que as decisões de realizar novos investimentos.
O Brasil continuará sendo muito importante para investimentos no setor automotivo, afinal, é um hub estratégico para a América do Sul e antes da crise, 75% dos fornecedores para a região estavam instalados aqui. Para quem já está no Brasil, sejam fábricas ou redes de concessionárias, investir é necessário para manter a competitividade; o negócio ainda compensa devido a consolidação e parque existente. Porém, para novos fabricantes e newcomers, ganhar market share, formar uma rede de concessionárias, construir parque e agregar absorção de pós-venda aos resultados do P&L, são tarefas hercúleas e requerem coragem para assumir compromissos com fornecedores e principalmente, com a matriz.
O Brasil não pode ter mais dois anos de “pibinho” e os carros elétricos não representarão mais de 20% do mercado nos próximos anos. Hoje, o petróleo atingiu US$ 130/barril. Somente o Etanol e o Setor Sucroenergético poderão salvar o setor automotivo brasileiro no futuro, dando-nos um protagonismo para a redução da pegada de carbono, utilização de energia limpa, renovável e até para a produção do hidrogênio verde. Já passou da hora do mercado conhecer e fazer essas análises sem paixões e com os pés no chão. Otimismo e realidade precisam andar juntos, afinal, business is business.
Orlando Merluzzi (*)
(*) Sócio da MA8 Consulting, conselheiro independente, mentor, palestrante e especialista em gestão e governança, atua no setor automotivo há 37 anos, dos quais, 30 anos dedicados ao relacionamento entre montadoras, concessionárias e associações de marca.
Tenho um projeto de inovação na área de mobilidade diferente de tudo q existe no mercado.
Precisa de investimentos p/ ser concluído.
Eu agradeço e vou aguardar p/ uma resposta c/ muita expectativa.
Meus recursos são limitados e a idade me faz refém do tempo q eu disponho.
Bom dia. Agradeço pelo interesse. Por favor, entre em contato comigo pelo email descrito no menu do post.