“ESG” é pauta de risco para concessionárias de veículos e distribuidoras de máquinas

  • No setor automotivo, a negligência com o ESG na rede de concessionárias pode oferecer grandes riscos para a imagem da marca.

As concessionárias de veículos e as distribuidoras de máquinas representam uma parte da cadeia de valor, susceptível a uma série de eventos inesperados, que podem afetar a reputação da rede de distribuição e da própria montadora.

O ESG é uma pauta importante de sobrevivência dos negócios, dos recursos naturais e da sociedade, em seu mais amplo entendimento, mas, também, uma pauta de risco para as empresas e por isso deve sofrer monitoramento constante.

O ESG NA REDE DE DISTRIBUIDORES

Contudo, antes de aprofundar a questão, quero eliminar uma pequena confusão que as pessoas incidem ao discorrerem sobre o tema, em que misturam conceitos de Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade e ESG. Simplificando, possuem sensíveis diferenças, mas que se complementam no mesmo propósito.

A sustentabilidade engloba as questões ambientais e a proteção dos recursos naturais, acrescida da agenda econômica em um cenário de longo prazo. O colapso desse macrossistema impactaria toda a Economia, com consequências imprevisíveis.

Quanto ao desenvolvimento sustentável, é o caminho para a sustentabilidade e o princípio que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazerem suas próprias necessidades.

De modo objetivo, sustentabilidade é gestão; desenvolvimento sustentável é processo.

A responsabilidade social conecta-se com os dois conceitos e muitos problemas ambientais ou a má utilização dos recursos naturais, podem acontecer em decorrência da deficiência educacional daquela sociedade, ou a falta de educação básica adequada.

Se compreendermos que as organizações carregam todas essas responsabilidades e a elas acrescentarmos os processos de Governança Corporativa aos pilares social, ambiental e econômico da sustentabilidade, podemos considerar a amplitude do mundo corporativo, público ou privado, em processos que garantam a transparência, a ética, o controle, a prestação de contas e por fim, a proteção empresarial contra a corrupção e as práticas ilícitas.

Pronto! Chegamos ao ESG, explicado de uma forma simples, mas agora vamos falar dos riscos.

Os riscos da negligência

A imagem da marca e sua reputação são ativos muito importantes, mas basta um único evento inesperado, afetando uma das três colunas do ESG, para destruir a imagem da empresa, principalmente em uma época de redes sociais agressivas, as quais retroalimentam-se de ódio e de processos destrutivos de reputações.

Os riscos relacionados aos aspectos ESG ganharam muita importância em decorrência de recentes catástrofes ambientais, questões sociais e direitos humanos, causando danos irreparáveis para algumas marcas. Rompimento de barragens com centenas de mortes; vazamento de petróleo contaminando praias e o ecossistema; agressão, pelos seguranças, com a morte de um cliente em um supermercado; casos de racismo que tomaram os noticiários; agressão e morte de um animal com requintes de crueldade em frente ao estabelecimento, por funcionários de uma prestadora de serviços; escândalos de corrupção envolvendo empresas e agentes políticos; vazamento de informações pessoais dos clientes; casos de corrupção em licitações para venda de veículos e máquinas. São exemplos recentes de eventos devastadores para a reputação de algumas empresas no Brasil. Além disso, ações judiciais de reparação de danos causaram estragos na saúde financeira e no caixa de muitas organizações. Então, entendeu sobre quais riscos estou falando? Neles você encontra práticas erradas do E (da gestão de risco ambiental), do S (da gestão da responsabilidade social e direitos humanos), e do G (da transparência e ética).

Se uma concessionária de veículos ou distribuidor de máquinas e equipamentos envolver-se em situações semelhantes, inevitavelmente, a consequência irá respingar na imagem e na marca da fabricante.

A conscientização

Informações sem fronteiras criam consumidores conscientes e críticos. Marcas que são socialmente responsáveis, por propósito e não como instrumento de propaganda, serão mais respeitadas e naturalmente tendem a gerar mais valor.

As boas práticas corporativas de ESG estão associadas a negócios sólidos e lucrativos, seja para fornecedores, montadoras ou redes de concessionárias e distribuidores.

É fundamental que as montadoras e fabricantes do setor automotivo realizem o diagnóstico do termômetro ESG de suas redes de concessionárias ou distribuidoras. Há excelentes ferramentas para isso. Esse diagnóstico é necessário, não porque o termo ESG está no topo da demanda socioambiental, mas porque o risco envolvido em imagem e reputação da marca é muito grande. Hoje, qualquer evento inesperado de grandes proporções sociais, ambientais ou governança, pode destruir uma marca da noite para o dia e explicar isso na matriz não será uma tarefa fácil.

Temos realizado diagnósticos e planos de implementação seletiva da cultura ESG e posso assegurar que é mais simples do que parece. Os gestores avessos às mudanças não precisam mais ficar incomodados com essa transformação cultural, aliás, é recomendável estarem preparados para quando a matriz cobrar a filial.

Orlando Merluzzi (*)


(*) Conselheiro independente, consultor de empresas e sócio da MA8 Consulting, atua no setor automotivo há mais de 36 anos. É palestrante, conferencista, autor do livro Potência Corporativa e criador do Portal Pensamento Corporativo.

Leave a comment