Os limites para expansão das vendas de carros elétricos no Brasil, a curto e médio prazos.

ELÉTRICOS 70%

  • O gráfico traz um elemento que poderia limitar a expansão futura das vendas dos carros elétricos no Brasil em médio prazo; ele mostra mais que uma simples questão de preço.

Em 2022, de janeiro a junho, setenta por cento das vendas de carros no Brasil foram de veículos com preço de até cento e vinte e dois mil reais (ordem de grandeza). Essa é a parcela de mercado que sustenta boa parte do parque industrial automotivo instalado aqui e está diretamente relacionada ao poder aquisitivo da população e às questões econômicas do país. Note que, em 2016 esse valor era setenta e dois mil reais, para os mesmos setenta por cento do mercado.

Em 2022, até junho, o preço médio (ponderado pelo volume) de todos os carros elétricos (puros) vendidos no Brasil, foi de trezentos e setenta e seis mil reais. Considerando as características do mercado local, o poder aquisitivo e algumas questões culturais, a parcela de carros elétricos compete em apenas trinta por cento do mercado e ainda assim, dividindo a fatia com os carros mais equipados e potentes com motor a combustão. Mesmo que os preços dos carros elétricos atuais baixem muito no futuro (coisa que as projeções mais honestas não indicam, sem a diminuição de conteúdo), continuarão competindo nessa faixa. Contudo, 15% de um mercado de dois milhões de veículos anuais representam trezentos mil veículos; é um limite, mas pode viabilizar muitas estratégias.

Ao contrário do que tem sido veiculado, equivocadamente por boa parte da imprensa, o aumento do volume de produção dos carros elétricos no mundo não fará o preço dos veículos serem reduzidos e o custo deve subir. Oitenta por cento dos componentes das baterias são commodities minerais nobres e seus preços internacionais apenas começaram a disparar. Os investimentos nas “gigafactories” e no desenvolvimento das novas tecnologias da mobilidade elétrica inteligente, terão que ser pagos. Estão previstos investimentos nesse setor, nos próximos dez anos, da ordem de quinhentos e cinquenta bilhões de dólares e isso é quase o PIB da Suécia. 

Os carros elétricos “de combate” que estão chegando, mais baratos, mais simples, menores e com baterias abaixo de 40kWh poderão, no futuro, entrar no limite superior da faixa dos setenta por cento, mas o risco da insatisfação da experiência do consumidor existe e precisa ser levado em consideração pelas fabricantes e redes de concessionárias. Você não faz, hoje, uma viagem de cento e cinquenta quilômetros com um carro desses e fica “tranquilo”. A autonomia das baterias é nominal e na prática, em utilização um pouco mais severa, a carga extingue-se mais rápido; por exemplo, você sai da sua garagem com autonomia de 200 km no painel e com dez minutos de rodovia já está com apenas 100 km de autonomia. Em adição, a questão do tamanho e conforto do carro será comparada com os modelos a combustão disponíveis.

O propósito de atender ao uso exclusivamente urbano, com esses modelos elétricos, deixará uma lacuna na mobilidade de longas distâncias, que precisará ser coberta de alguma forma. Aqui, há grandes oportunidades de negócios para fabricantes e concessionárias.

Os preços das baterias não irão baixar, pelo contrário a tendência é de alta. No portal oleodieselnaveia há vários artigos e estudos que explicam o cenário da mineração, processamento e precificação das commodities que compõem os carros elétricos (os quais estão longe de serem amigos das boas práticas do ESG). A questão dos carros elétricos usados é outro ponto fundamental de sustentação das vendas futuras: o que fazer com as baterias dos carros usados? O preço de uma bateria nova custará o preço do veículo depreciado (ou mais caro que o próprio veículo); é uma equação desafiadora a ser resolvida pelas fabricantes, afinal, sem o desenvolvimento do mercado de carros elétricos usados, não haverá crescimento das vendas dos carros elétricos novos.

Você compraria hoje, um carro elétrico usado com cinco anos de uso, sabendo que em breve teria que substituir a bateria? Bem, aqui há outra grande oportunidade de negócios para fabricantes e concessionárias.

Quanto à rede de recarga no país, irá aumentar e se tornará capilar, é questão de tempo, não tenho a menor dúvida. Contudo, a rede de recarga precisa crescer mais rápido que as vendas dos veículos elétricos; não posso imaginar uma fila de carros elétricos esperando sua vez para serem recarregados na metade do caminho entre São Paulo e Belo Horizonte ou no Km 198 da Castello Branco, afinal, um tanque de combustível, durante uma viagem longa, pode ser “recarregado” em dois ou três minutos enquanto uma bateria de um carro elétrico demandará, em média, trinta minutos para recarga.

Orlando Merluzzi (*)


(*) Sócio da MA8 Consulting, consultor de empresas, conselheiro e especialista em gestão, governança e estratégia de negócios, atua no setor automotivo há 37 anos, dos quais, 30 anos dedicados ao relacionamento entre redes de concessionárias, associações e as montadoras de veículos.

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