Os impressionantes números da dependência da China “elétrica”.

Carros Elétricos

NUMEROS DA DEPENDÊNCIA

Os carros elétricos são produtos espetaculares, mas as projeções da cadeia de suprimentos e volumes de vendas futuros precisam ser reavaliadas com mais razão e menos emoção. A conta não fecha.

A China responde por metade das vendas de carros elétricos no mundo e a cadeia global de suprimentos para baterias depende dos chineses. Os números são assustadores. Eles produzem 75% das baterias íon de lítio no mundo e quase 80% dos principais componentes. Mais da metade da capacidade de processamento do lítio, cobalto e refino de grafite está localizada na China.

A Europa fabrica 25% dos carros elétricos no mundo e processa 20% do cobalto. Os Estados Unidos têm um papel menor, fabricando 10% dos carros elétricos e tendo apenas 7% da capacidade de fabricação de baterias. A Coreia e o Japão têm papeis mais relevantes. É claro que esse cenário deve mudar, mas a cadeia de suprimento global de baterias, até 2030, dependerá da China em, no mínimo, 70%.

Os dados acima são do IEA; os dados abaixo são da MA8.

Um ponto que tenho levantado, há algum tempo e será objeto de matéria, é o descasamento entre as projeções de aumento de vendas dos veículos elétricos pelos próximos vinte anos e a disponibilidade de gigafactories para produção das baterias, não só para a indústria automobilística, como para os demais setores que necessitarão da produção das unidades armazenadoras de energia móvel ou estacionária.

O papel aceita tudo, só não conta de onde virá o dinheiro.

Em resumo, deveremos ter um enorme gargalo no futuro e logicamente, com reflexo nos preços. A demanda estimada para os próximos vinte anos exigirá capacidade de produção de 8TWh (hoje o mundo tem algo como 700GWh), lembrando que as baterias não são destinadas apenas para os veículos elétricos. Será necessária a construção de centenas de gigafactories e um orçamento total (privado) que excederá a casa do “trilhão de dólares”. Quem vai bancar isso?

São vários fatores limitantes para o futuro do setor; a extração e processamento dos metais e elementos nobres é tão preocupante quanto o gargalo na produção de baterias que começará a ser percebido a partir de 2030. Além disso, as novas baterias solid-state (SSB) chegarão comercialmente até o final desta década com maiores densidades. Além dos investimentos em centenas de fábricas de baterias, há os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (R&D). Essa conta precisará ser paga e o setor automotivo não é composto por entidades beneficentes.

A conferir.

Orlando Merluzzi (*)


(*) Sócio da MA8 Consulting, conselheiro independente de administração e especialista em gestão, governança e planejamento estratégico, atua no setor automotivo há 37 anos.


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