Carros elétricos, o que está por trás dessa agenda? Tendência ou necessidade?

Entenda essa transformação no mundo dos negócios automotivos e na mobilidade

A chegada dos carros elétricos apresenta um caminho sem volta e vários fatores confluentes causam a maior transformação tecnológica no setor de mobilidade, em pouco mais de um século, se bem que os carros elétricos já existem há mais de cento e trinta anos. No início do século passado, um-terço dos carros em Nova Iorque eram elétricos, mas por custarem muito caro e dado às limitações tecnológicas das baterias chumbo-ácido, os carros com motores a combustão mostraram-se, na época, mais viáveis. Agora, o cenário é outro e o pano de fundo dessa história, também.

pano de fundo

No centro da mudança estão as projeções de esgotamento das reservas de petróleo e gás natural em, no máximo, cinquenta anos e setenta anos, respectivamente e conforme as reservas forem diminuindo os preços subirão exponencialmente. Já há previsões de US$ 1.000 por barril de petróleo daqui a quinze anos, mas pode ocorrer antes. A necessidade de reduzir a emissão de partículas e gases de efeito estufa; a redução da pegada de carbono; as agendas ambientais e climáticas, mas, principalmente, o surgimento de uma nova ordem de poder mundial com o redesenho de blocos geopolíticos, que serão fortalecidos pelas reservas e capacidade de extração e processamento de lítio, níquel, bauxita, manganês, cobalto, grafite, nióbio, cobre, metais Terras Raras e outros elementos minerais nobres, necessários para construir sistemas de geração e armazenagem de energia elétrica.

Agora, veja o que disse o professor Theodore Levitt em 1960 em sua obra prima Miopia em Marketing: “A energia elétrica é um produto, supostamente, sem substituto. Quando apareceu a lâmpada incandescente, acabaram os lampiões a querosene. Depois a roda de água e a máquina a vapor foram reduzidas a trapos pelos motores elétricos. As empresas de energia elétrica continuam nadando em prosperidade, enquanto os lares se transformam em museus de engenhocas movidas a eletricidade. Como se pode errar investindo nessas empresas, que não têm pela frente concorrência, a não ser sua própria expansão? Porém, cerca de vinte companhias, de natureza diversa, estão adiantadas na construção de uma potente célula de energia química (pilha), que poderia ficar num armário escondido em cada casa, emitindo silenciosamente energia elétrica. Os fios elétricos, que tornam vulgares tantas partes da cidade, serão eliminados. Assoma igualmente no horizonte a energia solar, campo que da mesma forma vem sendo desbravado por empresas diversas daquelas que atualmente fornecem energia elétrica. Quem diz que as companhias de luz e força não têm concorrência? Talvez, representem hoje monopólios naturais, mas amanhã sofram morte natural. Para evitar que isto aconteça, elas também terão de criar “células de combustíveis” e meios de aproveitar a energia solar e outras fontes. Para poderem sobreviver, elas próprias terão de tramar a obsolescência daquilo que agora é seu ganha pão” Ted Levitt, 1960.

Incrível, não? Um gênio.

No final, para as montadoras não restará outra alternativa a não ser programarem o óbito de seus motores a combustão e adotarem o novo modelo de negócios, afinal, “business is business” e o mundo precisa eletrificar.

Orlando Merluzzi (*)


(*) Sócio da MA8 Consulting, consultor de empresas, conselheiro e especialista em gestão, governança e estratégia de negócios, atua no setor automotivo há 37 anos. É o criador do Portal Pensamento Corporativo.

 

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