Os principais elementos de economia e política industrial que trouxeram novas montadoras para o Brasil há poucos anos, bem como motivaram algumas marcas, instaladas aqui, a construírem novas fábricas, compõem uma equação com dólar baixo, economia em expansão, agronegócio deslanchando, recordes sucessivos de vendas no varejo, inflação controlada, índice de desemprego baixo, disponibilidade de financiamento, boa imagem do país no exterior e claro, alguns programas de incentivos onde o principal deles foi o Inovar-Auto. Contudo, várias marcas planejaram sua entrada no Brasil e aqui chegaram, antes da existência desse programa. O período entre 2006 e 2012 é considerado “o período dourado do mercado automobilístico brasileiro”.
Inovar-Auto, erros e acertos de um programa capenga
O Inovar-Auto foi um bom programa, mas a rápida elevação da cotação do dólar derrubou os planejamentos de muitos newcomers, uma vez que os dois primeiros anos do programa seriam fundamentais para a construção de novas fábricas, concedendo benefícios de importação nesse período, enquanto a fábrica era construída e a marca estabelecia uma rede de concessionárias. Estrategicamente, quando a fábrica estivesse pronta, a rede já teria sido montada. A elevação cambial resultou em custos não previstos para todos.
Outro ponto relativo ao Inovar-Auto, dessa vez negativo, foi o fato de ao final do programa, após cinco anos, algumas regras estabelecidas no início não terem sido regulamentadas e o programa acabou dessa forma.
O mercado projetado de 5 milhões de veículos virou fumaça
No início da década, as projeções menos otimistas para o mercado automotivo apontavam que as vendas ultrapassariam 4,5 milhões de veículos até a metade da década, chegando a 5 milhões em algum momento. Contudo, fazer projeções para o mercado automotivo no Brasil é sempre um exercício de futurologia com adrenalina. Foi nesse cenário que até marcas premium de veículos decidiram construir fábricas por aqui. Além do Inovar-Auto, há aqueles benefícios estaduais e municipais para atrair a montadora e seus fornecedores, benefícios que, em alguns casos, não se materializam.
Um gráfico para não esquecermos a história
Esse importante gráfico mostra alguns dos principais fatores que ajudaram a trazer novas montadoras para o Brasil entre 2006 e 2016, ou motivaram a construção de novas fábricas para marcas aqui instaladas. Os anos dourados se foram e a reversão desses elementos pode significar o início de um movimento de fuga do país, para marcas com volumes e market share muito baixos.
O setor automotivo e as redes de concessionárias não costumam ser entidades beneficentes e não há mais como sustentar operações sem resultado no “bottom line”.
Os próximos 3 anos serão críticos para algumas marcas, caso o mercado consumidor e os índices de desemprego e confiança não reajam. Vale lembrar que, uma vez tomada decisão na matriz é quase impossível revertê-la.
A Mercedes decidiu fechar uma fábrica de carros no Brasil (Iracemápolis) e anunciou nessa semana. A Audi já sinalizou estudos no mesmo sentido e, nesse momento, há outras duas redes de concessionárias em conflito oficial com suas marcas concedentes.
Esse gráfico conta uma história e pode projetar cenários. O Rota 2030 veio para mudar tudo isso, assim como o Inovar-Auto também veio, mas há elementos externos que fogem ao controle dos melhores programas de incentivo para o setor.
Orlando Merluzzi